Por sermos seres-humanos, passamos por momentos de deserto em nossas vidas. Indefinições, arrependimentos, erros e dificuldades. Amar nunca é simples. Crescer não é fácil.
Normalmente estes desertos nos despertam diferentes sentimentos. Dentre eles, segundo Pe. Jonas Abib, o sentimento que mais nos afasta de Deus é o desânimo, pois as pessoas acreditam que este vem de sua personalidade, de seu temperamento. As pessoas então não reagem a seu sofrimento, deixam a cruz no caminho, e prolongam os desertos de suas histórias. O apego ao que já passou nos torna “Bartimeus” pois presente e, por conseqüência, futuro se esvaem, restando apenas o passado.
Parafraseando o místico espanhol São João da Cruz: “O que conhecemos de Deus são as pegadas de sua ausência”, como num esconde-esconde entre o Criador e a criatura. Quando olhamos no para-peito da janela, Ele já foi. Quando voltamos para a sala, já não está mais lá.
Ausência. Palavra que entristece.
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Presença. Canal que revigora.
Neste esconde-esconde, entretanto, o prolongamento do deserto pode se tornar uma escolha. Muito cuidado ao pensar: “Deus já esteve mais perto de mim que está hoje”.
Lembremos dos girassóis. Eles não ligam para as sombras de suas vidas, afinal seu rumo se dá através do sol, e isso basta. Estamos nós vivendo nas sombras de nossa existência, ou voltamos nosso olhar ao nosso único e verdadeiro Sol?
Mal comparando, Deus não é o pote de ouro no fim de um arco íris. Quando percebemos que Ele se encontra no próprio arco-íris, ou seja, nas cruzes de nossa caminhada, nos permitimos sentir sua presença. A felicidade é uma escolha, diria um sábio amigo. E o pote de ouro poderia ser nosso suspiro derradeiro. Parafraseando o escritor francês Ludovic Giraud: “Ao se encerrar na sua noite, Ele retém um pouco da luz que, da soleira, lhe ofereceste, e um pouco do amor que em ti pode divisar.”
Como um mosaico, a Revelação de um Deus-Amor vai sendo construída em nossas vidas, se permitirmos. E a ausência se torna presença: o Amor repartido na Comunhão se torna prova disto. E aos poucos, fortalecidos, enxergamos ao longe o oásis no meio do deserto.
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Professor Carlos Martendal, certa vez, lançou a seguinte reflexão:
“Todos nós já tivemos momentos especiais, felizes. Hoje estive pensando: qual terá sido o dia mais feliz da vida de Jesus?”
Ouso responder: Meu caro professor, o dia mais feliz eu não sei. Porém, ouso dizer que onde 2 ou 3 estiverem reunidos no nome deles – mesmo remotamente nesta pandemia, Ele está feliz, no meio de nós.
Per crucem ad lucem: era pela Cruz que Ele devia chegar à glória.
Se as águas de março fecham o verão, a partir das cores da Ressurreição vivemos uma verdadeira primavera com a certeza da presença do Todo Amor.
“Viver é descolorir. Ou colorir, não sei. Tudo depende da disposição de quem vive.”
(Pe. Fábio de Melo)
Texto de: 10 de maio de 2015, atualizado em 23 de junho de 2020
Lui von Holleben